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soraia tavares: "não há nada melhor do que a música para entrar de outra forma nas pessoas"

com a certeza de que "a beleza vai mudar o mundo", soraia tavares esteve à conversa com a be wave. fica a conhecê-la um bocadinho melhor e, também, inevitavelmente, às suas causas.


© be wave

dizes numa música "eu sempre fui a mais mexida, a atrevida, risada forte e com piada pronta a sair". quem é soraia?

acho que é um bocadinho isso tudo. sou assim extrovertida e essa canção tem graça porque é por isso. há alguns momentos que nós nos sentimos intimidados e eu acho que nesses momentos eu fico o oposto, mesmo. parece que sempre fui assim muito tímida e, ao longo dos anos, e eu acho também que tem a ver com a profissão que tenho, acabei por ficar um pouco "mexida e atrevida". e quando é que descobriste o bichinho da arte? porque não nos podemos ficar pela música... desde sempre estive ligado às artes, desde miúda que sempre gostei de cantar, desenhar, pintar, esculturas... tudo o que era ev, essas coisas, sempre gostei. mas nunca pensei que iria seguir isto. até porque depois eu também tinha muito boas notas e achava "ah e tal, ir para uma escola profissional...". associava sempre essas escolas como, pronto, "escola de pessoas que querem só ir a acabar a escola". e, por isso, neguei ali um bocadinho. mas a minha mãe incentivou-me muito.

comecei também a cantar na igreja, mas comecei mais como atriz e agora, sim, estou a lançar-me como cantora.

por falar em tua mãe... quem é dona joana de que falas no teu álbum? a dona joana é a minha mãe. é uma mulher guerreira. parece que é um bocado cliché dizer a mulher guerreira, mas a minha mãe é mesmo assim. um grande exemplo para mim. a minha mãe e a minha irmã são duas mulheres fortes, determinadas, e que vão atrás de daquilo que precisam para os seus e para elas.


é no álbum "a culpa é da lua" que tens essa música. como é que foi este processo criativo? demorei mais ou menos dois anos a escrever todas estas canções. comecei na pandemia, porque, até lá, não achei que fosse capaz de poder ser compositora. achava só que eu era uma cantora e ia cantar as canções dos outros. fui desafiada pelo vasco sacramento, que é hoje o meu manager, a escrever originais e comecei a escrever as minhas primeiras canções. todo este processo... é engraçado que, como é óbvio, quando começamos a escrever canções não estamos já a pensar numa coisa... pelo menos eu não estava a pensar já a escrever uma coisa assim já muito fechada. ao longo do processo eu fui-me encontrando mais também com as minhas raízes. se calhar não posso dizer encontrar, porque eu sempre estive muito ligada às minhas raízes, mas se calhar na minha arte e nas coisas que eu fazia nunca estive então ligada. então esta procura de também perceber aquilo que eu sou e eu acho que este álbum é muito sobre mim, sobre as minhas inquietações, sobre as coisas que eu quero cantar, as coisas que eu quero dançar também... por isso escrevi um álbum em português e em crioulo, porque são as duas línguas que me acompanham todos os dias.


e como é que está a ser a receção ao álbum?

está a ser muito boa - mas também acho que ninguém diz "não gostei do teu ábum", né? - [risos]. eu só tenho tido bom feedback, as pessoas têm ouvido. claro que, para mim, devia estar em top número um [risos], mas acho que está a ser um bom início.



© be wave


começaste no teatro, passas para a televisão... acreditas que a televisão dá mais visibilidade? parece que aparentemente tenho um caminho facilitado por já ter uma back de televisão mas, ainda assim, são mundos muito diferentes. as pessoas estão à espera de me ver na televisão a fazer outro tipo de coisas e não estão à espera de ouvir a minha música e por isso também tenho as convencer a ouvir a minha música.


acho que é impossível falar contigo e não falar sobre questões raciais. acreditas que falta representatividade em portugal?

acredito que falta bastante representatividade. acho que estamos mais perto, mas ainda estamos longe. quando eu era miúda não via mesmo, de todo, em nenhumas posições, pessoas que eu me revisse. se calhar agora existem mais e se calhar até eu sou uma dessas pessoas. daí eu ter escrita "a beleza vai mudar o mundo". lá está, para mim, o álbum é sobre mim porque "a beleza vai mudar o mundo" é sobre as minhas inquietações e sobre as coisas que eu quero falar e acho que não há nada melhor do que a música para entrar de outra forma nas pessoas. com o black lives matter acho que houve muita agressividade. eu não me identificava nessa forma de falar mas identificava-me com o que estava lá e com a mensagem. por isso acho que a música entra de outra forma nas pessoas e pode ser uma boa maneira também de fazê-las pensar.


nesse sentido acreditas que a pequena sereia também foi assim um sonho realizado?

o meu nome do instagram é pequena soraia e vem da pequena sereia portanto foi logo assim um grande match. acho que o filme trouxe ao de cima a questão da representatividade a partir do momento em que a atriz é negra e grande parte do público não quis aceitar. fazer parte disso e fazer parte de uma história de uma princesa que não tinha representatividade, não tinha ninguém que já tivesse ido à superfície e de repente ela ainda assim quer lá ir, acho que me identifico bastante com isso e com a minha mensagem enquanto cantora e artista.


para terminar perguntava-te precisamente isso. o que é que vai mudar o mundo?

o que é que vai mudar o mundo? para mim, esta beleza que eu falo. tem a ver com bondade. o que é belo, o que é bom é que vai mudar o mundo.



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