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mariana dalot: "inspiro-me muito nas pessoas com quem me vou cruzando"

com 25 anos, mariana dalot lançou o seu primeiro álbum, "círculo". à be wave, contou como foi o processo de criação do mesmo, que começou em 2018.

© be wave.

quem é a mariana e como é que surge a música na tua vida?

a música sempre esteve na minha vida. sempre gostei de cantar e entrei para o conservatório logo no primeiro ano. os meus pais sempre cantaram também. a música sempre esteve muito presente e entrei para o conservatório e fui seguindo sempre.


depois vais para londres...

sim, queria tirar um curso superior que não fosse no clássico ou no jazz, que é o que temos aqui. sabia que eventualmente ia ter que ir lá fora experimentar e fazer coisas novas. e fui para londres...


quais foram as principais diferenças que encontraste?

é tudo muito diferente. a escola que eu estive em londres não era nada do clássico que eu fiz a minha escola inteira. tocar com uma banda, nunca tinha tocado... mesmo cantar com microfones... foi tudo muito diferente.


foi lá que começaste a cantar em público?

eu na escola tinha audições e assim quando era preciso... mas não era aquela criança de nas festas de família cantar à frente de toda a gente. aliás, foi há muito pouco tempo que membros da minha família me ouviram cantar pela primeira vez que eu não era mesmo essa pessoa. só quando fui para londres é que comecei a perder essa vergonha.


e quando é que surge o álbum "círculo"?

vim de londres em 2018 e decidi começar a escrever em português. comecei a escrever as primeiras canções e, em 2020, comecei a trabalhar, a gravar mesmo com o meu produtor, o pity. portanto, em 2018, comecei a escrever as músicas, e depois, a partir de 2020, comecei a juntar, ir para estúdio, gravar o álbum e, pronto, saiu este ano.


disseste, quando apresentaste "café" no concerto da carolina deslandes, que era uma música sobre aquelas pessoas com quem estamos sempre a tentar marcar um café. em que é que te inspiras?

acho que me inspiro muito nas pessoas com quem me vou cruzando. tenho muitas músicas que escrevi para oferecer a alguém ou sobre alguém. "café" é um exemplo. depois de tomar café com uma amiga, cheguei a casa e escrevi a canção. acho que me inspiro mais... aliás, acho que só devo ter uma ou duas que são mesmo sobre mim. o resto é ou a minha perspetiva sobre alguém da minha vida ou para essas pessoas. acho que me inspiro muito nas pessoas que se cruzam comigo.


sobre ti é o caso de "coisas simples"?

sim, exato. essa foi literalmente pegar numa lista que eu fiz de coisas simples. estava num dia triste da quarentena e decidi fazer uma lista para ver se me animava e depois pensei "se calhar consigo transformar isto numa canção". essa e a "moro no silêncio" acho que são assim as mais sobre mim.



tocas piano e começaste a tocar ukulele...

toco piano desde os seis e como não sei tocar guitarra comprei um ukulele para aprender outra coisa. até porque é mais fácil transportar. e também para escrever. como o piano já sabia tocar e já conhecia muitas coisas, acabava por tocar sempre o mesmo. no ukulele, como não sabia o que estava a fazer, conseguia descobrir sons novos. as últimas canções que escrevi foram todas com o ukulele porque descobria melodias novas porque estava só a explorar e não estava a pensar no que estava a tocar. ajudou-me muito a escrever as últimas canções.


como é o teu processo de criação?

depende. mas a melodia e a letra costuma ser ao mesmo tempo, não consigo fazer em separado. se eu fizer uma letra depois não consigo enfiar melodia lá ou vice versa. acho que há palavras que levam a sítios, então costumo fazer ao mesmo tempo. posso é depois ter a melodia na mesma e, com um instrumento, procurar os acordes. mas normalmente tento fazer tudo ao mesmo tempo.


e quando começas a escrever não consegues parar?

é isso... se eu não escrever a música toda de uma vez no dia a seguir já não vou pegar nelas. tenho muitas meias músicas, porque desisto. acho que no dia a seguir, ou mesmo uma hora depois, já não estamos a sentir como estamos a sentir naquele momento. então quando vem a ideia tento sentar-me e só sair quando acabo a canção mesmo.


falaste do facto de quando passa algum tempo já não sentires da mesma forma, mas começaste a escrever algumas músicas em 2018 e estás agora a apresentá-las... sentes alguma diferença?

gigante. a "um lugar" foi a primeira música que escrevi e quando foi para escolher as músicas para meter no disco eu tinha assim um amor ódio. porque a música já não me fazia tanto sentido quanto as últimas. aliás, quando estava a decidir as músicas para entrar no disco parei de escrever porque sabia que ia gostar mais das mais recentes. mas se há disco em que faz sentido meter as músicas que fizeram parte do processo é o primeiro. tive que fazer as pazes com a "um lugar" e fazer com que fizesse sentido agora. é normal eu não ser a mesma pessoa que era há quatro anos.


não sei se é por isso que a "consolo" é a minha música favorita do álbum, mas sinto que é uma canção muito honesta e despida, assim como a "moro no silêncio". dizes "não sei como te consolar, então fiz-te esta canção". a música também tem este papel?

para mim o objetivo era mesmo esse. tinha uma amiga que estava a passar por um mau bocado e é daquelas coisas que uma pessoa não consegue fazer nada, por muito que digas coisas às vezes basta só estar lá. fiz a canção para... é aquela coisa, se alguém precisar dá para meter a música a tocar e eu estou ali sem ter que dizer muita coisa. apesar de ter sido feita para outra pessoa, às vezes também me consola a mim. pelo menos é esse o objetivo.


vai ao encontro do que disseste há bocado, escreves muito para os outros... e é muito diferente passar do quarto para os palcos?

é diferente porque tenho a receção das pessoas, mas sabe muito melhor. poder partilhar... é isso que faz sentido e divirto-me imenso.


são doze canções em português. há hoje uma maior abertura para artistas portugueses e principalmente para mulheres na indústria musical?

acho que sim, cada vez mais. o que tem aparecido mais somos portuguesas a escrever em português. acho que a carolina [deslandes] abriu essas portas. eu, pelo menos, só senti que tive coragem para o fazer quando ela lançou o disco dela, que também foi quando ela teve coragem para escrever em português. acho que não é tarefa fácil. parece que sentimos as coisas muito mais, não dá para esconder atrás do inglês. mas sim, cada vez mais há mais abertura e também como nos inspiramos sempre nos cantores que seguimos também podemos fazer isso para as pessoas a seguir. e ao vermos outros artistas a conseguir, sabemos que havemos de conseguir também.



quem são as tuas maiores inspirações?

inspiro-me muito nas pessoas com quem me vou cruzando e nos meus amigos. na música, os expensive soul... cresci com eles e sempre foram artistas que me ensinaram coisas, muito mais na fase que não sabia o que havia de fazer com a minha vida. a carolina inspirou-me muito para começar a escrever e foi ela que me deu esse boost para saber que também queria dizer as minhas coisas. mas gosto de muitos artistas e ouço um bocado de tudo e vou buscando coisinhas de cada um.


uma curiosidade, e porque também o fazemos, porquê tudo em minúsculas?

não sei [risos]. acho que fica mais giro, mais acolhedor.


e por falar em acolhedor, e porque sinto que ouvir o teu álbum é quase como se nos estivesses a sussurrar ao ouvido, que mensagem é que gostavas de deixar a quem está a começar?

sejam sempre o mais honestos possível. não adianta estar a tentar fazer o que os outros fazem só porque está na moda ou é o que parece que faz sentido. pelo menos com estas canções tento sempre contar o que é verdade e trabalhar com verdade mesmo que depois não sejam aquelas coisas de passar na rádio e são sucesso do dia para a noite. se for verdade acho que acaba sempre por chegar às pessoas. se não for, mesmo que chegue, não dura assim tanto tempo. acho que nós queremos é ficar aqui muitos anos a cantar e não ser uma coisa de um ano ou dois. é isso, contar a verdade e fazer o que fizer mais sentido por cada um e não pelos outros.


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