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Foto do escritorbe wave

dino d'santiago, mão morta, sara correia e peça de pedro penim em guimarães para os 20 anos do centro cultural vila flor

no ano em que completa 20 anos de atividade, o centro cultural vila flor celebra "a forma como tem levado a cabo a sua missão" e quer "afirmar a sua potência enquanto projeto artístico, social e comunitário, de cocriação, fruição e formação cultural, do território, do país e do mundo".

© filipe ferreira

à programação regular dos primeiros meses do ano soma-se a realização de dois grandes festivais (guidance e westway lab) que são já um importante marco identificativo da pujança artística e cultural de guimarães, tendo desenvolvido a sua notoriedade ao ponto de conquistar reconhecimento nacional e internacional.


é dino d'santiago quem surge no grande palco do ccvf, a 18 de janeiro, com a sua contagiante energia positiva que nos transmite uma intensidade e serenidade tão própria. filho de pais cabo-verdianos, nasceu no algarve e cedo se envolveu nos movimentos da música urbana globalizada, viajando com mestria entre estilos musicais, fundindo os universos do soul, hip-hop com o batuku e o funaná. trabalhando a tradição musical cabo-verdiana com o peso contemporâneo da eletrónica global, dino já ultrapassou, porém, qualquer fronteira musical e social, tendo já sido reconhecido e multipremiado (inter)nacionalmente pelos seus sucessivos trabalhos.


a 26 de fevereiro, é a vez de liana flores surgir no palco do auditório do teatro jordão. após digressões esgotadas nos eua e no reino unido, a cantora e compositora anglo-brasileira embarca numa digressão por espanha e portugal. liana flores combina apontamentos oníricos com melodias melancólicas de guitarra, interligando uma gama única e inebriante de influências estilísticas da folk britânica e do jazz clássico à bossa nova brasileira dos anos 60. o seu álbum "flower of the soul" é uma estreia verdadeiramente envolvente, um disco que é uma clara declaração da sua intenção artística. transformação é a palavra de ordem neste álbum de estreia de liana flores, seja a mudança das estações ou a natureza evolutiva do amor.


o concerto dos mão morta em guimarães, no dia 1 de março, integrado na tournée "viva la muerte!", promete agigantar o palco do grande auditório francisca abreu, com vários motivos de celebração: em 2024, comemoraram-se os 50 anos do 25 de abril e os 40 anos da fundação dos mão morta, em novembro de 1984. dois acontecimentos que, aparentemente, nada têm em comum, exceto o facto de que sem o 25 de abril e a liberdade e democracia que trouxe para portugal, provavelmente os mão morta nunca teriam existido. e numa época em que o perigo do regresso do fascismo se torna palpável, não apenas em portugal, mas em todo o mundo democrático, os mão morta quiseram fazer um espetáculo sobre o recrudescimento das forças maléficas antidemocráticas e do seu comportamento arruaceiro, usando a democracia para a apologia do fascismo, deixando claro os perigos que corremos e em que a democracia (inter)nacional incorre.


mudando a trilha da programação mas mantendo a ótica na liberdade de abril, "quis saber quem sou – um concerto teatral”, criação de pedro penim, revisita as canções da revolução, as palavras de ordem, as cantigas que são armas, mas também as histórias pessoais das gerações que fizeram o 25 de abril. traz para o palco, a 15 de março, jovens atores/cantores, escolhidos numa audição a nível nacional, e colocando nas suas vozes e nos seus corpos de hoje, e do futuro, a memória das palavras da liberdade. o primeiro verso da canção "e depois do adeus" marca o momento histórico do arranque da revolução, tornando uma canção de amor num símbolo da liberdade.

© direitos reservados

sara correia é quem se segue no grande palco do ccvf, a 22 março, numa altura em que abraça uma nova digressão com o justo estatuto de fenómeno: cruzou o mundo sempre sob aplausos; lançou dois álbuns aclamados pelo público, elogiados pela crítica e premiados pela indústria; foi nomeada para um grammy latino; reuniu à sua volta alguns dos melhores letristas e compositores da atualidade e afirmou o fado como a sua casa. é sara correia quem diz: "liberdade", o seu terceiro disco, é o "mais fadista". à linguagem melódica fadista, de portugalidade vincada, vestiram-se depois as melodias de arranjos distintos e sonoridades mais ecléticas, livres, sem estereótipos. em conjunto com a sua banda, apresenta em guimarães um espetáculo uniforme e coeso, mas tingido por muitas cores distintas e texturas que resultam de subtis experiências e influências captadas noutros géneros. tudo isso cabe no fado de sara correia, tudo isso ressoa na sua alma que vive plena nesta liberdade.


já no último sábado de março, "cry why" assinala o regresso do coreógrafo alemão moritz ostruschnjak a guimarães, depois de já ter estado na cidade berço em 2022, no guidance. "cry why" funde dois solos que se entrelaçam e se tornam num dueto, onde miyuki shimitsu e guido badalamenti protagonizam uma história íntima e intensa entre duas pessoas que expressam o seu amor através de um conjunto de patins em linha, elemento que surge como uma extensão do corpo e das emoções. um espetáculo que cria seres, mundos e histórias bizarras, onde o sentimental, o romântico e o melodramático se interligam com a destruição, a violência e a crueza. a música, interpretada por reinier van houdt, através de dois pianos verticais colocados em cena, amplifica as emoções e define também o espaço pelo qual o pianista e os dois bailarinos se movimentam, por vezes amplo, quando estão distantes, outras vezes confinado, quando estão próximos.

© franziska strauss


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