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"beings": a ideia de ser eu e de sermos nós

acredito que não entramos no teatro jordão, em guimarães. entramos em casa de yeu-kwn wang e yin-ying lee. ouvimos as suas respirações. aceitamos os silêncios. dançamos ao som da mesma música. deixámo-nos apaixonar.

© paulo pacheco

o escuro e o silêncio, sempre que se apresentavam de mãos dadas, tornavam tudo mágico. não havia incerteza ao medo, que normalmente associamos a esses momentos. pelo contrário, aliás. em "beings", mesmo nesses momentos, parecia que um poema nos era sussurrado ao ouvido.


a peça tem o tempo perfeito. pouco mais de meia hora de um abraço que nos chega sob a forma de dança. uma tranquilidade e uma calma transmitidas que fazem tudo parecer fácil. uma maneira de levar a vida muito bonita: sem pressa e a aproveitar cada passo que é dado. a saber conhecer quem somos enquanto seres individuais e quem somos nas relações com os outros.


em cena um papel de arroz - com medidas e características exatas. assim tinha que ser para que, ao longo da peça, não se desfizesse -, e dois bailarinos. parece que estão a conhecer, a aproximar-se, a aprender a amar. partilham um palco e o amor pelo que fazem. juntos, com as caras e os corpos quase colados, o movimento faz-nos suster a respiração. movem os braços e a imagem é das imagens mais bonitas que me lembro de ver nos últimos tempos.


© paulo pacheco

a coordenação, a emoção, a cumplicidade. está lá tudo. às vezes em simples movimentos do dia a dia. e depois a música. ouve-se "i was dancing with my baby" e dançam, como se passeassem de mãos dadas numa cidade cheia de gente, sem se importarem com mais ninguém. são só eles ali. e , quase que como de um abraço se tratasse, trocam a camisola, e o bailarino é envolvido no papel.


é quando a tinta surge na equação. quando percebemos os ecos do que fazemos. quando a dança dá lugar ao desenho e o movimento permanece lá. assim como a cumplicidade. "beings" é um abraço quentinho, uma nuvem fofinha ou uma almofada para nos reconfortar.


pena é, que em guimarães, parece que os espetáculos perdem público por serem noutro local que não o grande auditório do centro cultural vila flor, ou por não serem companhias que as pessoas estão habituadas a ouvir falar. "beings" merecia bem mais que um teatro jordão meio cheio.

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