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"anda, diana" desafia a norma e prova que qualquer corpo pode dançar

a diana aparece, ao ombro de um bailarino. somos automaticamente confrontados com o contraste entre o corpo da bailarina e os corpos dos bailarinos (joãozinho da costa e bartosz ostrowski). diana parece ainda mais pequena e frágil. mas mostra, ao logo de toda a peça, o quão gigante é - e o quão gigantes todos podemos ser -. o contraste vai desaparecendo.


© paulo pacheco

antes disso, ouvimos algumas frases e facilmente percebemos - mesmo quem não leu a sinopse - quem é diana. é bailarina e coreógrafa e, em "anda, diana", retrata a reconstrução do seu eu depois de uma queda que a deixou com uma lesão medular e tetraplégica.


ela veste preto nas pernas. para cima há a liberdade de não vestir nada. eles vestem amarelo e usam meias compridas: um usa uma meia branca no pé direito e uma azul no esquerdo; o outro usa uma meia branca no pé esquerdo e uma azul no direito. lendo, talvez não o percebam, mas visualmente isto carrega um peso enorme: o do equilíbrio, da segurança. afinal, os bailarinos, que se completam, são um suporte para diana.


é assim que diana dança ao longo de "anda, diana". com um dos olhares mais intensos e expressivos que já vi, é suportada por joãozinho da costa e bartosz ostrowski. os seus braços criam imagens dignas de fotografias a cada instante e tornam pequenos os corpos dos bailarinos.


fascina-me a possibilidade de perigo em espetáculos. e a forma como esse perigo é transformado em algo poético. e aqui isso está presente em cada detalhe. há um ir e vir constante do corpo de diana, há transferências de peso constantes entre os bailarinos. e isso é lindo de se ver. a atenção aos pormenores dos três e a cumplicidade entre eles.


"anda, diana" é um espetáculo emocionalmente forte, mas com uma mensagem mais forte ainda. lembra-nos das nossas quedas - todas elas -, lembra-nos das nossas fragilidades, lembra-nos do quão fortes somos, lembra-nos da capacidade de nos adaptarmos e lembra-nos de que todos os corpos podem dançar.


a diana dança como ninguém, como só ela própria sabe. e está mais do que na hora de se deixar de ter medo de ver coisas que, à primeira vista, podem chocar e abalar.



*uma nota para o som da sala, que não posso aplaudir. percebo um som alto, mas não consigo perceber um som que ultrapassa os limites do suportável e que me fizeram, em muitos momentos, ter de "desligar" daquilo que estava a ver. - não me refiro ao som utilizado, porque esse está perfeitamente adequado à situação -





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